Dilúvio Global e Genética: Por que 8 Pessoas em 2370 a.C. Não Podem Explicar a Humanidade Atual
Introdução
As Testemunhas de Jeová e outros grupos religiosos afirmam que em 2370 a.C. ocorreu um dilúvio global, deixando apenas oito sobreviventes — Noé, sua esposa, seus três filhos e suas noras. Segundo essa visão, toda a humanidade e os animais atuais descenderiam dessas poucas pessoas e pares de espécies resgatados em uma arca.
Mas a genética moderna, a arqueologia e a biogeografia mostram que essa ideia é cientificamente impossível. Neste artigo, você vai entender, passo a passo, por que não podemos ter descido de apenas oito indivíduos há 4.400 anos.
Tempo insuficiente para gerar a diversidade humana
A Torre de Vigia afirma que toda a diversidade humana surgiu nos últimos 4.400 anos. Porém, estudos de DNA mitocondrial, cromossomo Y e genomas completos demonstram:
- A separação entre africanos e não-africanos ocorreu há 60–70 mil anos.
- A diferenciação entre ameríndios, europeus e asiáticos começou há 15–30 mil anos.
- Restos humanos datados de 40 mil anos atrás já mostram diversidade genética distinta.
👉 Ou seja: a genética prova que nossa variabilidade atual exige dezenas de milhares de anos, não apenas quatro milênios.
O gargalo genético seria fatal
Se toda a humanidade tivesse surgido de apenas três casais férteis (os filhos de Noé), isso geraria um gargalo genético extremo.
- Haveria perda massiva de genes (alelos).
- A endogamia seria tão alta que levaria a uma explosão de doenças recessivas letais.
- Populações conhecidas que passaram por gargalos (como os guepardos) carregam até hoje baixa diversidade genética e sérios problemas de sobrevivência.
Se tivéssemos passado por um evento assim em 2370 a.C., seríamos quase clones uns dos outros — e provavelmente a espécie teria desaparecido.
Os animais também desmentem a arca
Segundo o relato bíblico, apenas pares de animais (ou sete pares de “limpos”) sobreviveram. Mas:
- A diversidade genética atual dos animais não pode surgir em poucos milênios a partir de 2 indivíduos.
- Espécies isoladas geograficamente (como lêmures em Madagascar e cangurus na Austrália) nunca poderiam ter migrado da Mesopotâmia em tão pouco tempo.
- A zoologia e a biogeografia mostram que as espécies atuais resultam de milhões de anos de evolução e dispersão natural, não de um repovoamento recente.
Torre de Vigia x Genética Moderna
| O que a Torre de Vigia ensina | O que a genética mostra |
|---|---|
| Toda a humanidade descende de 8 pessoas em 2370 a.C. | A humanidade descende de milhares de indivíduos em tempos pré-históricos, nunca apenas 8. |
| Em 4.400 anos surgiu toda a diversidade humana. | A variabilidade genética exige dezenas a centenas de milhares de anos. |
| Todos os animais de hoje vieram de pares na arca. | A diversidade animal não pode surgir de pares em poucos milênios. |
| A Terra ficou despovoada após o dilúvio. | Populações humanas e animais existiam de forma contínua no planeta inteiro. |
| A biogeografia atual é fruto de migrações pós-diluvianas. | Distribuição de espécies (cangurus na Austrália, lêmures em Madagascar) prova o contrário. |
| O relato é histórico. | O relato é um mito religioso, sem base científica. |
Linha do Tempo: Dilúvio x Genética
| Data | Versão Torre de Vigia | O que a ciência mostra |
|---|---|---|
| 2370 a.C. (4.400 anos atrás) | O dilúvio destrói toda a humanidade, exceto 8 pessoas. | Egito, Mesopotâmia e China tinham civilizações ativas, sem registro de dilúvio global. |
| 2000 – 1000 a.C. | Humanidade repovoa a Terra a partir dos filhos de Noé. | Populações humanas já estavam geneticamente diferenciadas em continentes. |
| 15.000 – 10.000 a.C. | Não havia humanos (segundo TJs). | Povos já viviam nas Américas, com culturas estabelecidas. |
| 60.000 – 70.000 a.C. | Inexistente na cronologia TJ. | Humanos saem da África rumo à Ásia e Europa. |
| 150.000 – 200.000 a.C. | Inexistente na cronologia TJ. | Viveu a chamada Eva mitocondrial, ancestral comum feminina. |
| 300.000 a.C. | Inexistente na cronologia TJ. | Fósseis de Homo sapiens já habitavam a África. |
Conclusão
A genética moderna, apoiada pela arqueologia e pela biogeografia, prova que:
- A humanidade nunca passou por um gargalo de apenas 8 pessoas em tempos históricos.
- A diversidade atual só é explicável por populações grandes e estáveis ao longo de dezenas de milhares de anos.
- O relato do dilúvio é um mito religioso, não um evento histórico.
Portanto, o ensino das Testemunhas de Jeová sobre o dilúvio de 2370 a.C. é mais uma narrativa anticientífica, incapaz de resistir ao exame crítico.
Sugestões de Leitura
- Cavalli-Sforza, Genes, Povos e Línguas (1997).
- Reich, D. Quem Somos e Como Chegamos Aqui (2018).
- Nielsen, R. et al. “Tracing the peopling of the world through genomics” — Nature (2017).
- Pritchard, J. “Human Genetic Diversity” — Annual Review of Genomics and Human Genetics (2001).
