A Evolução da Interpretação das Testemunhas de Jeová Sobre a “Geração de 1914”

As Testemunhas de Jeová têm uma longa história de interpretações sobre a profecia de Jesus em Mateus 24:34:

“Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas essas coisas ocorram.” (Tradução do Novo Mundo)

Por décadas, essa “geração” foi associada às pessoas vivas em 1914, ano que as Testemunhas consideram como o início do Reino de Deus nos céus. No entanto, conforme os anos passaram e os membros dessa geração envelheceram e faleceram, ajustes foram necessários. Vamos explorar essa evolução em uma linha cronológica detalhada mais a frente.

O livro Verdadeira Paz e Segurança — Como Encontrá-la?, publicado em 1986 pelas Testemunhas de Jeová, refletia um entendimento que era fundamental para a organização na época: a crença de que a “geração de 1914” ainda estaria viva quando o fim do sistema mundial chegasse. Esse conceito baseava-se na interpretação de Mateus 24:34: “Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas essas coisas ocorram” (Tradução do Novo Mundo).

O Contexto da Crença

Desde o início do século XX, as Testemunhas de Jeová sustentaram que o ano de 1914 marcou o início dos “últimos dias” e que a geração que testemunhou esse evento veria também a conclusão desse sistema. Esse entendimento foi amplamente promovido em suas publicações, incluindo A Sentinela de 15 de maio de 1984, que declarava que “alguns desta geração ainda estarão vivos quando o fim vier”.

Contudo, com o passar do tempo, ficou evidente que os membros dessa geração estavam envelhecendo e morrendo, sem que o esperado Armagedom tivesse ocorrido. Isso criou uma tensão crescente dentro da organização, exigindo uma revisão desse entendimento.

Os Ajustes Doutrinários

1995: Uma Nova Definição de “Geração”

Em 1995, A Sentinela alterou a interpretação, declarando que “geração” não se referia mais a um grupo específico de pessoas nascidas em 1914, mas sim a pessoas contemporâneas que observavam os mesmos “sinais do fim”. Esse ajuste permitiu que a doutrina continuasse sem uma data limite explícita para o fim do sistema mundial.

2010: A “Geração Sobreposta”

Em 2010, uma nova revisão foi feita. Agora, a “geração” não era apenas a que estava viva em 1914, mas também englobava um segundo grupo de cristãos ungidos cujas vidas se sobrepunham à dos ungidos da primeira geração. Esse conceito tornou a profecia mais flexível e afastou a necessidade de um prazo definitivo para o Armagedom.

Parte final da tabela cronológica do livro Vida Eterna – Na Liberdade dos Filhos de Deus (pág. 35)

Por Que Essa Mudança Foi Necessária?

1914 – O Início da Expectativa

• Contexto: Os Estudantes da Bíblia, predecessores das Testemunhas de Jeová, acreditavam que 1914 marcaria o fim dos “Tempos dos Gentios” e o estabelecimento do Reino de Deus nos céus.
• Interpretação: Ainda não havia um foco específico na “geração”, mas esperava-se que o fim do mundo fosse iminente.

1927 – Primeira Definição de “Geração”

• Mudança: A “geração” passou a ser identificada como os iníquos vivos na época dos acontecimentos finais.
• Publicação: Esse entendimento foi promovido nas revistas A Sentinela.

1942 – A “Geração Contemporânea”

• Nova Interpretação: A “geração” passou a ser vista como as pessoas vivas em 1914 que testemunharam os eventos desse ano.
• Impacto: Criou-se uma expectativa de que essas pessoas viveriam até o Armagedom.

1967 – Reforço da Crença

• Declaração: A Sentinela reiterou que a geração de 1914 ainda estaria viva quando o fim chegasse.
• Motivação: Como o tempo passava sem que o fim ocorresse, reforçava-se a urgência da pregação.

1984 – Afirmativa Explícita

• A Sentinela de 15 de maio declarou:”Algumas pessoas que presenciaram os acontecimentos de 1914 ainda estarão vivas quando o fim vier.”
• Interpretação: Considerava-se que essa geração incluiria pessoas que tivessem idade suficiente para compreender os eventos de 1914.

1995 – Grande Ajuste na Doutrina

• A Sentinela de 1º de novembro trouxe uma redefinição:
  • Nova Interpretação: A “geração” deixou de se referir a pessoas nascidas em 1914 e passou a significar qualquer grupo de pessoas que testemunhasse os sinais dos “últimos dias”.
  • Consequência: Essa mudança eliminou o limite de tempo anteriormente associado ao fim.

2010 – A “Geração Sobreposta”

• A Sentinela de 15 de abril apresentou uma nova abordagem:
  • Definição Atualizada: A “geração” inclui dois grupos de cristãos ungidos cujas vidas se sobrepõem:
    1. Aqueles vivos em 1914.
    2. Aqueles que vieram depois, mas cujas vidas coincidiram com os do primeiro grupo.
  • Propósito: Isso expandiu o tempo da “geração” indefinidamente, mantendo a expectativa do fim iminente.

Por Que Essas Mudanças Foram Necessárias?

A principal razão para a revisão foi a passagem do tempo. Se a interpretação original fosse mantida, a profecia teria se mostrado falsa, minando a credibilidade da organização. Ao reformular a definição de “geração”, as Testemunhas de Jeová puderam manter a urgência de sua mensagem sem o risco de previsões fracassadas.

As Testemunhas de Jeová acreditam que sua organização recebe orientação divina e que “a luz da verdade brilha mais” com o tempo. No entanto, há alguns fatores práticos por trás dessas mudanças:

• O Fim Não Veio: Como o Armagedom não ocorreu enquanto os membros da geração de 1914 ainda estavam vivos, ajustes foram necessários.
• Perda de Credibilidade: Se a doutrina não fosse revisada, muitos poderiam questionar a validade das predições.
• Adaptação Contínua: Outras crenças proféticas também sofreram mudanças ao longo do tempo (como a data de 1975 como possível fim do mundo).

Conclusão

A doutrina da “geração de 1914” é um exemplo de como as Testemunhas de Jeová ajustam suas crenças quando as expectativas falham. Originalmente vista como uma geração literal, foi reinterpretada para um conceito mais flexível ao longo das décadas, garantindo que a expectativa do fim continue viva.

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