🕊️ Como o Zoroastrismo Moldou o Judaísmo — e o que as Testemunhas de Jeová não querem que você saiba

🕊️ Como o Zoroastrismo Moldou o Judaísmo — e o que as Testemunhas de Jeová não querem que você saiba

Quando pensamos no desenvolvimento da religião judaica, muitos imaginam uma linha pura e direta desde Abraão até os profetas. Mas a realidade é bem diferente. Após o exílio na Babilônia, os judeus entraram em contato com o zoroastrismo persa, e isso transformou profundamente suas crenças sobre o mal, o juízo final, o além e os seres espirituais.

Neste post, você verá provas textuais claras de como o pensamento judaico mudou antes e depois do contato com a Pérsia — e como as Testemunhas de Jeová tentam abafar essa história com explicações forçadas.

Henrique Caldeira Historiador, Pesquisador, Professor de História

🧙 O que é o Zoroastrismo?

O zoroastrismo é uma religião fundada por Zaratustra (ou Zoroastro), provavelmente entre 1500 e 1000 a.C., na Pérsia. Seus pilares:

  • Um deus supremo do bem: Ahura Mazda
  • Um espírito do mal: Angra Mainyu (Ahriman)
  • Dualismo ético-cósmico: bem e mal em luta até o fim dos tempos
  • Juízo individual após a morte
  • Ressurreição dos mortos e julgamento final
  • Seres espirituais intermediários: anjos (benéficos) e demônios (maléficos)

Soa familiar? Pois é.


Jonathan Matthies Professor graduado em História e pesquisador em cultura e tradição religiosa judaico-cristã, História do Cristianismo e História do Judaísmo

Osvaldo Luiz Ribeiro
Pós-doutorado pela UFJF (2016). Doutorado em Teologia (Bíblia Hebraica) pela PUC-Rio (2008). Bacharelado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista do Paraná (2008). Mestrado (livre) em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Rio de Janeiro (2003). Bacharelado em Teologia (livre)

📜 Antes do exílio: o mal vinha do próprio Deus

Antes do contato com os persas, Yahweh era tanto fonte do bem quanto do mal. Não havia Satanás como entidade rival, nem um conceito claro de vida após a morte, muito menos ressurreição.

➤ Isaías 45:7 (século VIII a.C.)

“Eu formo a luz e crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (TNM)

Aqui, o próprio Jeová afirma que cria o mal. Não há nenhum opositor espiritual — o mal faz parte do pacote divino.


🔥 Depois do exílio: o surgimento de Satanás e a separação do mal

Após os judeus viverem décadas sob o domínio persa, suas ideias mudaram drasticamente.

➤ Zacarias 3:1-2 (século V a.C.)

“Ele me mostrou Josué, o sumo sacerdote, de pé diante do anjo de Jeová, e Satanás estava à sua direita para acusá-lo.” (TNM)

Agora Satanás aparece como figura distinta, com função de acusador — algo ausente nos textos anteriores ao exílio. Essa figura é muito semelhante a Ahriman, o adversário maligno do zoroastrismo.


☠️ Antes do exílio: o Sheol, um lugar sombrio para todos

A crença dominante era que todos iam para o Sheol, um lugar silencioso e sem distinção entre justos e ímpios.

➤ Eclesiastes 9:5,10

“Os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma… No Sheol, para onde vais, não há trabalho, nem planejamento, nem conhecimento, nem sabedoria.” (TNM)

Nada de céu, inferno ou julgamento. Apenas um fim sombrio e silencioso.


🌅 Depois do exílio: ressurreição, juízo e destino final

Agora, a ideia de uma ressurreição corporal e julgamento final ganha força — exatamente como no zoroastrismo.

➤ Daniel 12:2 (c. 160 a.C.)

“Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, alguns para a vida eterna e outros para a vergonha e desprezo eterno.” (TNM)

Esta é a primeira menção clara à ressurreição e recompensa/punição pós-morte na Bíblia hebraica. Coincidência que isso surja depois de 400 anos de domínio persa?


👼 Anjos e demônios: outro traço persa

Antes do exílio, os “anjos” são apenas mensageiros sem nomes. Após o contato persa, surgem hierarquias angelicais com nomes e funções definidas — muito parecido com os Amesha Spentas e Daevas persas.

➤ Antes: Gênesis 18–19

Anjos visitam Abraão e Ló, mas nenhum é nomeado.

➤ Depois: Daniel 10:13

“Miguel, um dos principais príncipes, veio me ajudar…” (TNM)

Agora temos Miguel, um arcanjo guerreiro — e em outros textos, Gabriel, o mensageiro. Tudo isso ecoa fortemente o mundo espiritual estruturado do zoroastrismo.


🕳️ Como as Testemunhas de Jeová encobrem essa influência?

As Testemunhas de Jeová, por dependerem da ideia de que toda a Bíblia é divinamente inspirada e progressiva, rejeitam qualquer influência externa. Mas elas não ignoram totalmente o zoroastrismo — apenas o tratam como uma religião que “copiou” a adoração verdadeira.

🔎 Estudo Perspicaz das Escrituras, verbete “Zoroastrismo”:

“Embora contenha alguns conceitos que lembram os ensinamentos da Bíblia, como anjos bons e maus, ressurreição e julgamento, isso não significa que o judaísmo ou o cristianismo tenham recebido tais ideias do zoroastrismo. É mais provável que o zoroastrismo tenha herdado, de forma distorcida, noções da adoração verdadeira do passado.”

Essa inversão lógica é comum na Torre de Vigia: quando há semelhanças incômodas, elas alegam que o mundo é que copiou a verdade — nunca o contrário.


🧠 Conclusão: Influência clara, apesar da negação

As evidências são sólidas: o judaísmo foi profundamente transformado durante o domínio persa, e várias crenças centrais do cristianismo e das Testemunhas de Jeová têm suas raízes no zoroastrismo — não na revelação direta de Jeová.

Negar isso é ignorar a história, a arqueologia, a crítica textual e a cronologia dos próprios textos bíblicos.


📚 Leitura recomendada

  • Boyce, Mary. Zoroastrians: Their Religious Beliefs and Practices
  • Gmirkin, Russell. Berossus and Genesis, Manetho and Exodus
  • Grabbe, Lester. Judaism from Cyrus to Hadrian
  • Russell, D.S. The Method and Message of Jewish Apocalyptic

Juliana Cavalcanti é historiadora, doutora em História Comparada pela UFRJ com Pós-Doutorado em Arqueologia pelo Museu Nacional (UFRJ). Ela também é Coordenadora do Laboratório de História das Experiências Religiosas (LHER) e tem diversos livros, capítulos e artigos publicados.


admin

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *