A Verdade sobre a Evolução — E a Desonestidade da Torre de Vigia

🧬 “Será que toda vida tem um ancestral em comum?” — essa é a pergunta que a Torre de Vigia faz em um de seus artigos publicado no site oficial das Testemunhas de Jeová (wol.jw.org). À primeira vista, parece uma abordagem neutra, científica. Mas, à medida que se lê, percebe-se algo muito diferente: uma tentativa sistemática de sabotar a ciência, distorcer fontes e manipular o leitor para rejeitar a Teoria da Evolução em favor de crenças religiosas sem qualquer base empírica.
Neste artigo, vamos expor as táticas desonestas da Torre de Vigia e demonstrar por que a evolução — com um ancestral comum para toda a vida — é uma explicação cientificamente sólida e extremamente bem fundamentada.
fonte: https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1102010346
🎯 O objetivo do artigo: minar a ciência com retórica religiosa
A estratégia é velha: usar linguagem científica para dar aparência de neutralidade, mas apresentar apenas meias verdades, distorções e argumentos falaciosos. O artigo faz isso ao:
- Citar cientistas fora de contexto para sugerir que a própria ciência rejeita a evolução;
- Criar uma falsa divisão entre micro e macroevolução;
- Ignorar fósseis transicionais;
- Rejeitar a genética como evidência de ancestralidade comum;
- E, por fim, apelar ao “Deus das lacunas”: se a ciência ainda não sabe tudo, “só pode ter sido Jeová”.
Vamos começar pela maior das manipulações: o uso de Malcolm Gordon e Eric Bapteste como se estivessem destruindo a teoria da evolução.
🧠 Malcolm Gordon e Eric Bapteste: citados com desonestidade
📌 Quem é Malcolm Gordon?
Malcolm Gordon é um biólogo da UCLA conhecido por suas pesquisas em fisiologia comparada e evolução de vertebrados aquáticos. Ele publicou, sim, um artigo em 1999 questionando a validade universal da “árvore da vida” em domínios específicos — principalmente entre organismos unicelulares.
Mas Gordon não nega a evolução. Nem a ancestralidade comum.
O que ele propõe é que, em certos ramos da vida (especialmente nos reinos microbianos), os caminhos evolutivos não se encaixam perfeitamente no modelo de árvore tradicional. Em vez disso, ele propõe modelos mais complexos, como redes e mosaicos genéticos. Isso é ciência fazendo o que sempre faz: se refinando com base em novas evidências.
📌 Quem é Eric Bapteste?
Eric Bapteste é um dos principais nomes em biologia evolutiva contemporânea. Ele é especialista em filogenia molecular e evolução de organismos procariontes (como bactérias e arqueas). Ele também questiona o modelo clássico de árvore filogenética no caso dos micro-organismos, devido à transferência horizontal de genes.
👉 Mas, novamente: Bapteste não rejeita a teoria da evolução. Pelo contrário, ele a fortalece ao mostrar que precisamos de modelos mais sofisticados para representar os caminhos evolutivos — especialmente no nível microbiano.
Em entrevista à revista New Scientist, Bapteste disse:
“Não estamos dizendo que a vida não evolui, ou que a evolução não explica a diversidade. Estamos dizendo que o processo é mais complicado do que uma simples árvore ramificada.”
🔍 O que a Torre de Vigia faz?
Eles pegam trechos de artigos técnicos, fora de contexto, e usam isso para sugerir ao leitor leigo que os próprios cientistas não acreditam mais em evolução — o que é uma mentira grosseira. É uma tática desonesta, típica de movimentos criacionistas fundamentalistas, que priorizam a doutrinação sobre a verdade.
🔄 Microevolução vs. Macroevolução: o truque da falsa dicotomia
O artigo tenta fazer parecer que aceitar microevolução (variações dentro da mesma espécie) é razoável, mas que macroevolução (surgimento de novas espécies) seria “teoria demais”.
Só que isso é um sofisma. A macroevolução é apenas microevolução ao longo de muito tempo.
Já foram observados:
- Eventos de especiação em laboratório (como com moscas-das-frutas e flores);
- Modificações acumuladas ao longo de gerações que resultam em formas incompatíveis de reprodução entre populações isoladas.
Essa separação artificial serve apenas para confundir o público — exatamente o que o artigo faz.
🦴 E o registro fóssil? Ele confirma ou nega a evolução?
A Torre de Vigia diz que o registro fóssil mostra organismos surgindo “repentinamente”. Isso só é verdade se você ignorar os fósseis de transição, que estão em abundância.
Veja alguns exemplos famosos:
- Tiktaalik – transição entre peixes e tetrápodes (375 milhões de anos atrás);
- Archaeopteryx – elo entre répteis e aves (150 milhões de anos);
- Basilosaurus e Ambulocetus – evolução das baleias a partir de mamíferos terrestres.
A ciência reconhece lacunas, mas o que temos já demonstra perfeitamente a ancestralidade comum e os caminhos evolutivos.
🧬 DNA: a assinatura inequívoca da ancestralidade comum
O artigo da Torre rejeita o DNA como prova de ancestralidade comum — e isso é simplesmente insustentável.
- Todos os organismos compartilham o mesmo código genético de base (DNA → RNA → proteínas).
- Humanidade e chimpanzés compartilham mais de 98% de DNA.
- Há genes silenciosos (pseudogenes) em humanos que só fazem sentido se herdamos de ancestrais com cauda, patas extras ou pelos corporais espessos.
O padrão de semelhança genética bate exatamente com as árvores evolutivas propostas com base em fósseis e morfologia. Coincidência? Só se for má vontade.
🙈 “A ciência não sabe, então… foi Deus!”

Esse é o argumento final do artigo: se a ciência ainda não explica completamente a origem da vida, então o Gênesis é a melhor opção. Isso é o famoso “Deus das lacunas”: tudo que a ciência ainda não respondeu, a religião preenche com dogma.
Mas essa lógica é falha por dois motivos:
- A ciência já tem boas hipóteses para a origem da vida, como a abiogênese química e experimentos como o de Miller-Urey.
- A ignorância momentânea não valida automaticamente uma explicação religiosa.
🚨 Conclusão: A Torre de Vigia mente — e mente de propósito
O artigo analisado não é apenas mal informado — ele é intelectualmente desonesto. Ao manipular declarações de cientistas como Gordon e Bapteste, e ao ocultar evidências robustas, a Torre de Vigia demonstra que sua prioridade não é a verdade, mas a defesa dogmática de suas crenças, mesmo à custa da honestidade intelectual.
A teoria da evolução, por outro lado, é refinada, testada, confirmada por múltiplas áreas da ciência, e segue sendo a explicação mais robusta e coerente para a diversidade da vida.
📚 Leitura recomendada
- “A Grande História da Evolução” – Richard Dawkins
- “Por que a evolução é verdadeira” – Jerry Coyne
- “The Tangled Tree” – David Quammen (fala sobre redes evolutivas e Bapteste)
- TalkOrigins.org – Respostas científicas ao criacionismo