🏠 Beth-Sarim: A Mansão dos Patriarcas que Nunca Voltaram

“Milagres Forjados?” – Parte 2
Quando o fim falha… a culpa é do povo?
📜 O anúncio triunfante: 1925 será glorioso!
Na década de 1920, as Testemunhas de Jeová (então chamadas de Estudantes da Bíblia) estavam certas de uma coisa: o ano de 1925 marcaria o fim do sistema mundial e o retorno dos “antigos príncipes” mencionados no Salmo 45:16 — homens como Abraão, Isaque, Jacó e outros profetas de tempos antigos. Eles seriam ressuscitados como seres humanos perfeitos para governar a Terra. E a organização foi além da pregação: construiu uma casa em San Diego, Califórnia, chamada Beth-Sarim (“Casa dos Príncipes”, em hebraico).
Essa ideia foi amplamente promovida por Joseph F. Rutherford, então presidente da Sociedade Torre de Vigia. Em seu livro Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (1920), ele declarou:
“Portanto, podemos confiantemente esperar que 1925 marcará o retorno de Abraão, Isaque, Jacó e os fiéis profetas do passado… para a condição de perfeição humana.”
— Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, p. 88, edição original.
A profecia não era uma sugestão, era uma afirmação categórica — alimentando expectativa em centenas de milhares de seguidores.
🏚 Beth-Sarim: um palácio para os mortos
Beth-Sarim foi comprada em 1929, com o pretexto de ser morada dos patriarcas quando retornassem. Até lá, serviria como residência de inverno para Rutherford, que sofria de problemas respiratórios.
O Deed of Trust (Escritura de Posse) da casa declarava:
“Esta propriedade foi comprada… com o propósito de ser usada pelos referidos príncipes… quando forem ressuscitados.”
A mansão simbolizava confiança total de que a profecia era verdadeira — mas os patriarcas nunca vieram. E a casa virou um monumento do fracasso profético da Torre de Vigia.

📉 O silêncio após o fracasso
Quando 1925 passou e nada aconteceu, a organização simplesmente evitou falar do assunto. Mas com o tempo, a vergonha foi maior, e era preciso controlar a narrativa.
Em 1931, o próprio Rutherford admitiu (num raro momento de franqueza):
“Foi declarado positivamente que milhões agora vivos jamais morreriam. Essa afirmação era feita em nome do Senhor. E essa afirmação estava errada.”
— A Vindication (1931), Vol. 1, p. 338 (em inglês).
🧼 Lavando as mãos: a culpa é dos publicadores?
Décadas depois, a Torre começou a tentar reescrever a história, atribuindo a culpa da expectativa a “alguns irmãos zelosos”, ou dizendo que os publicadores “foram além do que se dizia”.
Veja o que a Sentinela de 15 de fevereiro de 1980, p. 30 afirmou:
“Alguns dos irmãos esperavam que talvez o Reino Milenar começasse em 1925. Essas expectativas não se cumpriram… foi a expectativa de indivíduos, não da organização.”
Esse tipo de declaração é um exemplo clássico de gaslighting religioso: a organização cria uma crença, imprime em livros, prega nos congressos e constrói uma casa para provar sua confiança na profecia… mas quando tudo falha, culpa os membros por “terem interpretado errado”.
🕳 A história que eles querem esconder
Beth-Sarim foi vendida em 1948, silenciosamente. A Torre de Vigia apagou o evento de suas publicações por décadas. Hoje, muitos Testemunhas de Jeová sequer sabem que essa casa existiu — e muito menos o que ela significava.
A Sentinela de 1.º de novembro de 1950 tentou enterrar o assunto:
“Beth-Sarim foi usada por um tempo… mas com o término daquele arranjo, a casa foi vendida. Hoje não há nenhuma expectativa semelhante.”
Nenhuma menção clara aos patriarcas. Nenhuma admissão do erro doutrinal.
🧼 Tentativa de apagar o vexame: o que o Proclamadores omite
Décadas depois, quando publicou sua versão “oficial” da própria história no livro Proclamadores do Reino de Deus (1993), a Torre de Vigia tentou reescrever os fatos mais embaraçosos.
Na página 632, o livro trata da profecia de 1925 com palavras suavizadas:
“A expectativa para 1925 era baseada na ideia de que haveria o início da restauração das bênçãos para a humanidade com o retorno dos fiéis homens do passado.”
Em vez de admitir que essa “ideia” foi publicada como uma profecia categórica, o texto transforma tudo em uma simples “esperança”, como se tivesse sido criada de forma espontânea pelo povo.
Sobre Beth-Sarim, a menção é ainda mais evasiva (p. 76):
“Beth-Sarim era uma casa em San Diego, Califórnia, construída para fornecer um lugar onde irmãos em posição de responsabilidade poderiam se recuperar de doenças.”
Nenhuma palavra sobre o fato de a casa ter sido oficialmente registrada para os patriarcas ressuscitados. Nenhuma citação do documento legal que afirmava isso. Nenhuma menção da profecia de que Abraão, Isaque, Jacó e outros iriam morar ali.
Esse tipo de reescrita histórica é sintomático de organizações que tentam manter uma aparência de infalibilidade. Quando os fatos contradizem essa imagem, a saída é simples: revisar, suavizar, omitir.
📌 Quando a história condena, a Torre edita. Beth-Sarim é o vexame enterrado sob a casa da negação.
🤔 Por que isso importa?
Beth-Sarim não é apenas uma curiosidade histórica. Ela é evidência física de como a liderança das Testemunhas de Jeová já promoveu profecias falsas com plena convicção, manipulando a fé das pessoas — e depois, covardemente, jogou a culpa sobre os fiéis e varreu tudo para debaixo do tapete.
📚 Publicações-chave citadas
- Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (1920)
- A Vindication (1931)
- A Sentinela, 15 de fevereiro de 1980, p. 30
- A Sentinela, 1.º de novembro de 1950
- Escritura de posse de Beth-Sarim (Deed of Trust, 1929)
📌 Conclusão
A história de Beth-Sarim mostra como líderes religiosos podem distorcer expectativas, errar profecias, manipular seguidores — e depois fingir que nada aconteceu. Este é só mais um capítulo da nossa série “Milagres Forjados?”, em que revelamos como o sobrenatural, na maioria das vezes, é uma construção muito humana.
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