Refutando o Argumento das Testemunhas de Jeová Sobre os Dias da Criação

As Testemunhas de Jeová frequentemente afirmam que a Bíblia e a ciência não estão em conflito, e que os “dias” da criação descritos em Gênesis 1 são longos períodos de tempo, e não dias literais de 24 horas. Um artigo publicado no site oficial da organização, JW.org (A ciência e o relato de Gênesis), tenta sustentar essa ideia. No entanto, uma análise mais cuidadosa do texto bíblico mostra que esse argumento é falho e baseado em raciocínio circular. Vamos examinar os problemas principais com essa interpretação.
O Uso da Palavra “Dia” em Gênesis 1
A palavra hebraica yôm (יום) pode, de fato, ter diferentes significados dependendo do contexto. No entanto, no relato da criação, cada dia é definido com a expressão “houve tarde e houve manhã”, uma estrutura que indica um ciclo de 24 horas. Essa expressão ocorre em cada um dos seis dias da criação, o que sugere que o autor queria transmitir a ideia de dias literais, não eras indefinidas.
Outro ponto importante é que quando yôm é usado com um número (primeiro dia, segundo dia, etc.), ele se refere sempre a um dia literal nas Escrituras Hebraicas. Isso reforça que Gênesis 1 está falando de dias normais.
A Conexão com a Semana Judaica
A prova mais forte de que os dias da criação eram de 24 horas vem de Êxodo 20:8-11, onde Deus ordena aos israelitas que guardem o sábado porque:
“Pois em seis dias Jeová fez os céus e a terra, o mar e tudo o que há neles, e ele descansou no sétimo dia.”
A semana judaica é baseada no padrão de seis dias de trabalho seguidos por um dia de descanso. Se os dias da criação fossem longos períodos indefinidos, então a lógica da semana judaica desmoronaria. Afinal, se Deus “descansou” por milhões de anos, os judeus também teriam que descansar por um período equivalente?
O Argumento Circular das Testemunhas de Jeová
O artigo da JW.org argumenta que os dias da criação devem ser longos períodos de tempo porque a ciência demonstra que a Terra tem bilhões de anos. O raciocínio é o seguinte:
- A ciência mostra que o universo tem bilhões de anos.
- Gênesis 1 precisa estar de acordo com a ciência.
- Portanto, os dias da criação devem ser períodos longos.
Esse argumento é circular porque assume que a Bíblia deve se alinhar com a ciência moderna, em vez de interpretar o texto conforme seu contexto original. Na verdade, Gênesis não dá espaço para dias longos; a ideia de “períodos indefinidos” é imposta ao texto para evitar conflitos com a ciência.
Contradição Interna no Argumento
Curiosamente, o artigo também afirma que as espécies vivas se reproduzem “segundo as suas espécies” e não evoluem de uma forma para outra. Isso contradiz a própria ideia de dias longos, pois se cada “dia” durasse milhões de anos, como poderiam as espécies serem criadas de forma fixa e não sofrer mudanças naturais ao longo de tanto tempo?
Se aceitam a ciência para justificar os dias longos, por que rejeitam a evolução, que é uma conclusão científica baseada nas mesmas evidências? Isso mostra que a organização apenas aceita os aspectos da ciência que lhe convêm, ignorando outros fatos que desmentem sua doutrina.
Conclusão
Se analisarmos apenas a Bíblia, sem tentar ajustá-la à ciência, vemos que o autor de Gênesis descreveu a criação em seis dias literais. O próprio Êxodo reforça isso ao usar a semana da criação como modelo para a semana de trabalho judaica. O artigo da JW.org tenta distorcer o texto para harmonizá-lo com a ciência moderna, mas ao fazer isso, cai em argumentos circulares e inconsistências lógicas.
A interpretação original de Gênesis é clara: os dias eram literais, assim como os dias da semana judaica.