Apelo à Ignorância: Como as Testemunhas de Jeová Manipulam o Debate sobre a Criação

As Testemunhas de Jeová são conhecidas por sua abordagem seletiva ao interpretar textos religiosos e científicos. Em um de seus artigos recentes sobre a criação, elas tentam conciliar a narrativa bíblica com a ciência moderna, ao mesmo tempo que rejeitam a evolução e insistem em um design inteligente. Mas será que essa argumentação se sustenta? Ou será que o artigo apenas explora a ignorância do leitor para parecer mais convincente? Vamos analisar as estratégias retóricas utilizadas e como a própria organização já se contradisse ao longo do tempo.
O Uso do Apelo à Ignorância
O artigo afirma que “a Bíblia apresenta uma explicação lógica e confiável sobre o início do Universo” e que “o relato bíblico da criação não contradiz as conclusões dos cientistas quanto à idade do Universo”. Esse tipo de afirmação explora um viés cognitivo conhecido como apelo à ignorância, que se baseia na falta de conhecimento do leitor para fazê-lo aceitar uma premissa sem evidências sólidas.
Aqui estão alguns exemplos de como esse apelo à ignorância é empregado:
- “Deus criou todas as categorias básicas de animais e plantas” – A Bíblia nunca menciona “categorias básicas” ou qualquer conceito equivalente à baraminologia (a pseudociência criacionista que tenta justificar variações dentro de tipos fixos). Esse conceito foi inserido para parecer mais compatível com a biologia moderna sem, no entanto, fornecer qualquer evidência real.
- “Pode ser que cada um dos seis dias criativos mencionados no relato bíblico tenha durado milhares de anos” – A palavra hebraica yom (dia) é usada em Gênesis acompanhada de “tarde e manhã”, o que indica um dia literal. Se os escritores bíblicos quisessem dizer “eras longas”, teriam usado outro termo. Essa reinterpretação tenta suavizar a contradição com a ciência moderna, sem admitir que o relato bíblico não é compatível com os dados científicos.
- “A complexidade do Universo e dos seres vivos aponta para um Criador” – Esse argumento ignora completamente os processos conhecidos da seleção natural e mutação genética, sugerindo que qualquer sistema complexo só pode ter sido projetado intencionalmente. Essa ideia já foi refutada pela biologia evolucionária há mais de um século.
A Retórica de Convencimento
As Testemunhas de Jeová utilizam uma linguagem que dá a impressão de que há um consenso científico sobre a validade do relato bíblico da criação. No entanto, o artigo falha em fornecer referências científicas de credibilidade para apoiar suas afirmações.
Além disso, há uma forte tentativa de desacreditar a teoria da evolução sem apresentar contra-argumentos sólidos:
- Uso de frases como “processos desconhecidos e acidentais” para descrever a evolução – Isso é uma deturpação da teoria evolucionária, que não depende do acaso, mas sim da seleção natural.
- Citação seletiva de cientistas – O artigo menciona Alfred Russel Wallace, um dos coautores da teoria da seleção natural, insinuando que ele acreditava em uma “mente inteligente” por trás da vida. No entanto, eles omitem que Wallace era um evolucionista convicto e defendia a seleção natural como o principal mecanismo da diversidade da vida.
Contradições Internas: O Que as Publicações Passadas Dizem?
Curiosamente, as Testemunhas de Jeová já publicaram declarações que contradizem suas afirmações atuais sobre a criação. Veja alguns exemplos:
- No livro Houve Um Criador? (1985), a organização admitia que os fósseis indicavam mudanças ao longo do tempo, mas na época tentavam explicar isso por meio de uma teoria vaga de “microevolução”. Hoje, eles evitam esse termo e falam apenas em “variações dentro das categorias”, o que é essencialmente a mesma coisa, mas reformulado para evitar parecer que aceitam a evolução.
- No livro A Vida – Qual a Sua Origem? Evolução ou Criação? (1985), afirmam que a segunda lei da termodinâmica impediria a evolução, ignorando que a Terra não é um sistema fechado e que a energia do Sol permite a complexificação dos seres vivos. Esse argumento foi tão criticado que eles praticamente pararam de usá-lo.
Essas mudanças demonstram que a organização revisa suas próprias publicações conforme suas alegações são refutadas, mas sem admitir explicitamente que estavam erradas.
Conclusão
O artigo das Testemunhas de Jeová sobre a criação não se baseia em evidências científicas, mas em retórica persuasiva e no apelo à ignorância do leitor. Ao evitar detalhes que enfraqueceriam sua posição e reinterpretar a Bíblia para parecer mais compatível com a ciência, a organização engana seus seguidores, criando a ilusão de que há um embasamento racional para suas crenças.
Se a verdadeira história da criação realmente fosse tão clara e convincente, não haveria necessidade de recorrer a distorções e argumentos falaciosos. A cada revisão de suas publicações, as Testemunhas de Jeová demonstram que sua versão da verdade está em constante adaptação para evitar ser desmentida pela ciência.
Artigo usado para refitação: https://www.jw.org/pt/biblioteca/revistas/g201403/verdadeira-historia-da-criacao/